Cresci a sentir que este mundo é um peso. Uma espécie de castigo ou maldição. Só podia ser assim, afinal Deus estava longe e era inalcançável. O que me restava?
Mas antes de me sentir crescida, eu era apenas uma criança inocente que se sentava nos prados, cantava lengalengas às joaninhas, conversava com as árvores, apascentava e mugia as vacas. Nasci no campo, rodeada de natureza e só muito mais tarde é que percebi a saudade e o amor sincero que sinto por todos esses seres.
Recentemente ia de carro e contemplava a ladeira de um caminho com várias árvores quando tive uma epifania. Perante mim, as árvores, as pedras, o prado, a colina... transfiguraram-se. Já não eram árvores, pedras, prado, colina..., mas Pensamento Divino cristalizado. “Estas são as formas-pensamento de Deus”.
O meu rosto sorria. “Afinal, Ele está aqui! Sempre esteve aqui. Tão perto!” Aqui, por todo o lado, a Existência é a cristalização do Pensamento de Deus. A Natureza, em si mesma, é uma Escola de Mistérios!
Podemos ligar-nos à natureza em busca de relaxamento, lazer e bem-estar; podemos ligar-nos à natureza em busca de mais resiliência e autonomia ou podemos ligar-nos à natureza para contemplar os Mistérios Profundos da Existência. E também é possível fazer as 3 coisas ao mesmo tempo e outras mais!
Sinto-me de novo uma criança inocente e curiosa que gosta de desvendar Mistérios. E assim, dou por mim a dizer olá a sua majestade o pato, que habita na ilha que há no meio do rio; o meu olhar intrigado perante os peixes a nadar em contra-corrente num rápido, “o que estarão eles a fazer?”; recuo perante a correria das lagartixas, até que uma agarra as costas da outra com as mandíbulas, “estarão a acasalar? Será que o sémen passa pela boca para as costas?!!!?”, e eis que numa pirueta as duas caudas se engancham, “ah, assim já faz mais sentido! Pelo menos, é mais convencional..., mas por que raio o macho abocanha a fêmea pelas costas? Mas ela está com ar relaxado e airoso... misterioso mundo o das lagartixas!”; e depois os pombos... ele a arrulhar atrás dela, com ar sério e diligente de macho responsável, ela empertigada e fugidia como quem tem mais o que fazer e eu com ar parvo a olhar para eles e a rir-me divertida.
Contemplar cada um destes seres e conhecer os seus mundos acorda lampejos de Vida dentro de mim. Percebo que partilhamos a mesma Vida. A Vida é Una, um só rio que flui infinitamente.
Mas preciso de me dar permissão para simplesmente estar e contemplar, uma vez após outra e depois outra, preciso de me dar permissão para ser inútil e totalmente improdutiva. Afinal, ficar aí a pasmar não dá de comer a ninguém! Mas sim, vou ficar a pasmar, porque este é o alimento do meu Ser.
Sermos apenas úteis e produtivos pode transformar este mundo numa espécie de castigo ou maldição. É preciso permissão interna para desacelerar e contemplar os Mistérios, para nutrir o Ser. E isso é um treino, uma disciplina, uma entrega. É um caminho que eu quero aprofundar e desejo partilhar com outras pessoas.
Para isso criei um canal de Telegram. Adere aqui: https://t.me/pertencoavida