Numa reunião de trabalho, todos sentados à volta da mesa, a Maria levanta-se e fica de pé. Há desconforto geral na sala e o diretor diz-lhe diretamente:
- Por favor, sente-se. Assim de pé parece que se está a preparar para se ir embora!
- É ao contrário. - responde-lhe ela, - Eu preciso de me levantar e de me mover para me sentir ativa e para sentir que estou aqui com vocês e a participar na reunião.
Mais tranquila por ter expresso a sua necessidade e dado o desconforto na sala, a Maria sentou-se. A reunião continuou e mais à frente, sem se dar conta, ela levanta-se novamente enquanto expressava a sua opinião no tema que estava a ser discutido. Nem ela se deu conta de que se levantou nem o grupo manifestou desconforto.
A Maria está a resgatar a conexão consigo mesma e com a inteligência do seu corpo. Está mais capaz de agir de forma autêntica no momento, em vez de se dissociar das situações e se conformar ao status quo.
Ao explorarmos este tema durante uma sessãoindividual, eu e ela ficamos deslumbradas pela dança que acontece entre a transformação do indivíduo e a transformação da cultura / sociedade na qual apessoa se insere.
A expressão autêntica da Maria implica uma ligação mais visceral ao corpo e ao movimento do que aquela que é aceite no seu contexto profissional. Por isso, cada passo que a Maria dá nesse sentido abre essa possibilidade também no campo de consciência coletiva da empresa.
Devido à peripécia da Maria, as outras pessoas que estavam presentes testemunharam uma forma diferente de participar numa reunião.Talvez alguma delas estivesse também a precisar de se levantar para mover as ideias e nunca se tivesse dado permissão para fazer isso.
Como diz Arnold Mindell, sermos nós próprios é um ato de intervenção política!(*) Saber isso dá-me muita força nos momentos em que a luta interna e externa pela minha autenticiadade é mais feroz porque nessa luta sinto-me parte interventiva nos destinos da humanidade. E a ti, o que é que tedá força?
Cristina Coutinho
(*) "Being yourself is apolitical activity today, as it has always been!" Arnold Mindell, in The Year One
Texto originalmente publicado em: https://www.facebook.com/cristina.coutinho/posts/10158409599337201